quarta-feira, 16 de março de 2011

Salgado Maranhão



Sexydade


Vou abrir artérias
em teu cimento,
em tua alma de slogan,

te violar;

vou cavar um duto
em teu coração de gueto,

arar teu saara.

Não adianta fugires
com teus cadáveres
no micro-ondas,
com tuas bundas S. A.

Vou te desmontar,

iluminar os buracos
da tua cara.



Caniboys

I

Não se matam mais humanos para consumo,
pra fazer mingau de vísceras.

Não se matam mais em rituais
com tambores em volta da fogueira:
o olhar da presa esbugalhado
e heróis uivando para os deuses.

Matam-se pelo que não tem nome.

Mudaram-se os dígitos da insânia cíclica
no site da morte e sua noite metafísica.


II

O que quer um matador
em sua alma de aluguel
e seu coração de breu?

Por acaso busca o céu,
ao destroçar sua presa
com a devoção de quem reza?

Por que lhe negar revanche,
ao decretar seu desmanche?

O que move um matador
na explosão do disparo?
Algum diamante raro?

Algum tesouro escondido
que se evola no estampido?

O que busca um matador?
Busca – por acaso – grana?
Busca, na infâmia, fama?

Acaso, a vida é o dízimo
de sua igreja de abismo?


Salgado Maranhão
Caxias – MA (1953)

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