quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Antonio Cisneros



Homenagem a Armando Manzanero
(Arte poética 3)


Já não sei se esta tarde vi chover é de armando
[manzanero ou é o canto primeiro de minha
[primeira infância
e de nada serviram as sílabas contadas e recontadas
[a guerra santa contra o lugar comum de nada o
[velho amor pelo velho arnold schoenberg
não é o caso de se explicar como mann ou a morte
[em veneza "assim à tarantela do café deixei
[dormir o crítico que eu era"
só que já não há lênin nem martí que possam
[devolver-me a casa de ayacucho (não essa casa)
[e os olhos tranquilos
os livros são tijolos de uma torre que nunca
[edifiquei tu peux lire en français in english
[too muito velozmente em castelhano
mas já não há coração que aguente a robert lowell
[nem há mais fígado livre
como se deu mal o vallejo e contudo acreditava (seu
[pouco era bom) nas "rubras auroras dos povos"
agora a cada almoço me negociam com minha tribo
[e meus animaizinhos como ao canal de suez
[os votos da onu os foguetes de combate o
[porto de hong-kong
esta tarde vi chover vi gente correr e tu não estavas
[e se o senhor pouco se importa / não escrevo
[para o senhor
sou eu quem semeou a árvore teve o filho
[escreveu o livro e vi tudo arder cem anos antes
[do tempo combinado.


Antonio Cisneros
Lima - Peru (1942)

Tradução: Carlito Azevedo e Aníbal Cristobo

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