Pedra e água
Deus me deu parentesco
com pedra penha rocha.
Essa maneira de ser
que fácil não se dobra.
Deu-me o gosto pelas coisas
que se demoram e perduram.
Coisas consistentes, sólidas.
Deu-me premissas e amarras
e memórias arquivadas.
Rebelde, embalo o sonho
de ser água, forma indefinida
e vaga, abraçando as curvas
do mundo tal qual ele é
achando que todo chão dá pé
sabendo a natureza do existir
ser o fluir e o escorrer.
Meu desejo mais profundo
é dispersa navegar
no ventre imenso das águas.
Livre de prévio contorno
entregar-me a todo jorro
no impulso de alegre união.
Oh ser como águas frias
que libertas do ontem de gelo
lançam-se cegas no pélago.
Astrid Cabral
Manaus – AM (1936)
Belo poema!
ResponderExcluirAstrid, sua poética é encantadora.
Abraços
Celi Luz