quarta-feira, 5 de maio de 2010

Francisco Perna Filho



Tocantins


Um rio sereno corre nos meus dias,
há tanto que eu o persigo,
desde suas nascentes
quando é apenas um fio.
Passando por transformações,
nas corredeiras, nos montes de areia e cachoeiras.
Vejo-o indo,
sempre indo.
Às vezes, terno; às vezes, retumbante.
Muitas vezes rompe o próprio leito.
O rio que corre em mim
é ancestral,
é pura simbologia,
retrato de épocas,
lutas,
e sonhos.
O rio da minha infância
ainda corre
em alguns pontos, tímido,
segregado, aborrecido,
coisa dos homens.
Da margem de cá,
da margem de lá,
é sempre rio,
quando me rio de alegria
dos inavegáveis trechos.
Santificado em águas profundas,
correr é de sua natureza,
natureza de rios,
não de homens.
Rolam águas,
rolam sonhos,
rolam peregrinos.
Bem-te-vi,
e bem te vejo,
benfazejo,
como um estirão,
um grito longo
que se precipita por outras terras,
por outros gritos,
repercutidos em sonhos,
amanhecendo em homens,
a todo instante
se refazendo.


Francisco Perna Filho
Miracema do Norte – TO (1963)

Nenhum comentário:

Postar um comentário