terça-feira, 24 de agosto de 2010

Joedson Adriano



Ode aos deuses
(Estrofes 25 a 27)


a poesia não é apenas uma arte aplicada
é o instinto mais íntimo e o imperativo às artes
e o tao que legitima as línguas e linguagens
a criar em palavras o que só pode em palavra
é magia com as palas das palavras a poesia
que mais acerta dardos se com denodo desmente
que em crenças não crê porque quer entender
é cálculo psicótico do que sem peso se pensa
que se descuida menos a mira milimétrica
quando em sanha não sente a súplica da vítima
a poesia é piração e pretenciosa cura
cerebral acupuntura pro artista ateu
que não sai de sua sede e de seu ser não foge
porque pra não morrer de marasmo e maresia
neles vive em vida do volume dos mortos
a mais venal-venturosa e voraz das aventuras
que maleável plenamente em potência só perdura
por alígeros-ardentes e árdegos segundos
vinda dum avoengo e astrológico aéon
que das nebulosas vaza do vulcânico vórtice
o magma do passado em púberes paradigmas
que só mais um modela das miríades de mundos
e numa fôrma esfria a emoção encefálica
que milênios esquenta num estro de esquadria

minha testante a trotes e a tretas protestante
legal irreligião de idiossincrasia intensa
é a ímpia-impatriótica e impartidária poesia
que é madre da arte e afilhada de afrodite
que sem as dores e doenças de doméstica santa
são as despidas déias da destoante elegia
dos meus honden de opiniões e órgão de orgias
minha pagã poesia a pólen helenizada
é atuante e prática sem patrocínio político
de usurpar sem usura os usos e os desusos
os três em um poderes e o pátrio poder
da epilética eclésia de esclerose múltipla
mas atuante após não haver sido eleita
e prática prontamente se poetizada em teoria
é trágica no transe da tresloucada euforia
de eu querer ser o ser que dos seres não sou
sem poder prantear na pensante disforia
após os quinze segundos duma senha pro céu
eis o lume do vislumbre dum versículo de versos
e o genitivo objetivo de objetar oração
que com seu salto sêxtuplo em sudas se alcança
o avultante vulto do vitalizante vate
que no cérebro cálido a cristalizar cristos
esfria o efêmero e o eterno do coração

em feitiçarias druidas eu devaneio e digito
controversa de propósito e paradoxal poesia
sem conversa fiada à fé falsificada
porque somente sei que eu não sei do nada
e sem práxis pactual de planos concretismos
com versos variados de veias diversificadas
eu me verso versus à viciada poesinha
em afirmação ambígua e alheia a mim mesmo
que acesa só cessa em cemitério cético
por priápica prova e paralisante teste
que é propósito próprio e propriedade minha
e impróprio impropério pras ideologias dos outros
que segue em sua senda de circular por tudo
prum estrangeiro fardo não lhe fixar um fim
e cá sem acolá de alcoólicos anônimos
que a meu self satisfaça de sentido e descanso
nestas nevadas páginas de paixão primaveral
eu harmonizo e monto meu melódico missal
em orgásticos risos sem reza e sem rito
com assonante ardor no altar holocáustico
e destes meus ditirambos não definhará um
porque sem cobrar dízimos os dedico ao deus-dará
que esquecido de lilith por lombra nem se lembra
que é a nossa alma de amiúde se amostrar


Joedson Adriano
Bayeux – PB (1983)

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