quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Foed Castro Chamma



Chaves


I


Os símbolos aflitos se devoram
e nascem desta luta, do mistério
com que navego o dorso solitário
da noite exposta em negro mar aéreo
de peixes com seus gritos, suas partidas
que investem com as bocas pelas tardes
atrás do claro entre as escamas: dia
que não decifram. Doam suas vidas
como eu me dôo, porém se resisto
é que navego e sonho e me elucido
nas águas deste mar. Delas me visto
e viajo num azul que é suavidade
para além do que existe além da vida
e é limiar de aberta claridade.



III


Áries investe para a minha face
mas domino-o com três pedras de sorte,
derramo-lhe nos olhos o rubim
e um signo mais propício me renasce.
Desfaço o que me habita – o secundário –
e caminho empunhando o belo facho
de luz que me revela sempre março
aberto para todo itinerário.
Meu é o silêncio, minha a madrugada
E as vozes que se acordam nestes versos
Vou tangendo inspirado no precário.
Escutai-me, ó feridos da beleza,
para salvar-vos tanjo o louco pássaro,
invento em minha boca este canário.



VI


Certa manhã quando nascia a aurora
reinaram em meus sentidos dois cavalos.
Ouvi-lhes os relinchos, eram gritos
trespassados de amor, as negras crinas
estremeciam como cabeleiras
por dedos invisíveis desatadas.
Recordo-lhes as crinas de onde pássaros
pareciam voar contagiados
dos sonhos que fluíam dos seus olhos.
Que líricas palavras, que vocábulos
se queimaram em suas bocas, que arco-íris
não coloriu seus corpos incendiados
para que eu atravessasse o dia
com os cavalos em mim sempre acordados!



IX


Meu exercício é inventar-me e não me invento
senão para esperar que nesta sala
eu me escute calado a celebrar
a magia da minha própria fala.
De que confins eu chego ou ela chega
para atrair os pombos que nos voam
sem que eu veja primeiro mas pressinta
que voam sobre nós e nos coroam.
De que confins eu chego, de que noites
abismadas que chego e já me encontro
presente a surpreender minha chegada?
Invento-me num círculo e me queimo
e me reinvento e não descubro a fala,
mas sei que está em mim atravessada.


Foed Castro Chamma
Irati – PR
(31/03/1927 – 12/01/2010)

Um comentário:

  1. FOED CASTRO CHAMMA

    PEDRA DA TRANSMUTAÇÃO

    buscar união ao etéreo
    o ouro do espírito
    da sombra do mistério

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