Metamorfose
Quando a mulher
se transformou cabra
marés nuíram
ao ciclo recente
das águas
ah
as bombas
desceram em pára-quedas
antes dos homens
Esta é a revolta
a metamorfose
onde
equinócios mecânicos
abortam os filhos
Cabra só cabra
espeta
nas pernas dos pajens
os cornos alucinantes
como para ergueres dos mortos
a necessidade da vida
antes
A mulher se transformou cabra
ritual de emigração
em resposta à raiz
constante das árvores
ao grande silêncio
empastado nas letras
de imprensa
Foi quando a mulher
se fez cabra
no compasso de fúria
contra a batuta
dos chefes de orquestra
que escorrem notas
dos gritos da música
Fez-se cabra
desatenta de origens
cabra com fardo de cio
no peso das tetas
cabra bem cabra
adoçando a fome
na flor dos cardos
(Quando a cabra
voltar mulher –
– ressurreição)
As casas
I
As casas vieram de noite
De manhã são casas
À noite estendem os braços para o alto
fumegam vão partir
Fecham os olhos
percorrem grande distâncias
como nuvens ou navios
As casas fluem de noite
sob a maré dos rios
São altamente mais dóceis
que as crianças
Dentro do estuque se fecham
pensativas
Tentam falar bem claro
no silêncio
com sua voz de telhas inclinadas
Fábula
O animal entende-se:
tem cascos põe-os a render
tem pele aquece
fecha-se nos olhos para adormecer
tudo quanto lembra esquece
Despende-se.
Permanece.
Luiza Neto Jorge
Lisboa – Portugal
(10/05/1939 – 23/02/1989)
quinta-feira, 24 de março de 2011
Luiza Neto Jorge
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