domingo, 5 de dezembro de 2010

Fábio Andrade



O homem só


Uma mulher
é sempre duas

duas vezes ela conhece
o nascimento e a morte

o rosto da mulher se bifurca
deixando falsas pistas

migalhas que um pássaro
segue até a armadilha

apenas a mulher
conhece a unidade

a curva da vida
definindo seu perfil.



O homem só
não é um homem triste

Sua vida
é uma fecunda brevidade

Só e pleno
despojado do acessório

Pode acompanhar
uma nova juventude

O homem só
estação de onde parte a vida.



Morrer é bem intransferível
com ninguém se partilha
nem a ninguém se diz a dor
pura de apagar-se sozinho

Morrer é retornar ao estar só
o ventre sem rosto
para o qual foram criadas
nossas mãos e ossos de barro.


Fábio Andrade
Recife – PE (1977)

Um comentário:

  1. O homem só, pleno porque despojado. Como nos diz Montaigne: "Devemos medi-lo sem pernas de pau, nem riquezas, nem dignidades: em mangas de camisa".

    Montaigene, Livro I, cap. XLII, Da desigaldade entreos homens.

    Meu Blog: http://relendorosa.blogspot.com

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