sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Reynaldo Bessa


Outros Barulhos


uma noite
minha mãe
puxava-me pela mão
éramos quatro;
eu, ela, o medo e a pressa
disso lembro-me bem
enquanto os três conversavam
eu pregava os olhos nos olhos tristes das casas e
me dava uma tremenda vontade de perguntar
“mamãe, o que elas têm?”

*

quando caí da rede
vi que eu existia mesmo
minha mãe apareceu no umbral da porta
logo, meu pai, nu, nasceu de uma sombra e a puxou
ele queria terminar de foder com ela, e
parece que comigo também
os dois, silenciosamente, desapareceram na sombra
vi que eu não existia mesmo
quando caí da rede.

*

o silêncio
do meu irmão
doía mais
que as pancadas
do meu pai

*

meu coração é um filho rebelde
ouve música às alturas, usa piercing,
fala estranho e está cagando pra mim.
sem me comunicar vai para os braços
de uma mulher que
adora me ver triste.
eu digo: o que é isso filho?
ele me responde:
foda-se véio.


Reynaldo Bessa
Mossoró – RN (196?)

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