terça-feira, 3 de maio de 2011

Elder Oliveira



Primeira ternura


a sua casa fica longe
muito tenho que andar
passam cinco horizontes
seis cancelas sete pontes
oito léguas nove montes
dez caminhos pra chegar

a sua casa é tão distante
já não sei como encontrar
tem um bosque encantado
um rio fundo um cerrado
um abismo um descampado
pra que eu possa atravessar

onde moras professora?
já nem consigo estudar...



Puberdade


o sol ganhou o milharal
se esparramou devagarinho
caiu na sombra do quintal
alvoroçando os pardaizinhos

depois de ter se esparramado
e afugentado os passarinhos
caiu nas frinchas do telhado
para dourar os teus peloinhos



Felinos


todo gato é temperamental
e sabe de suas sete vidas
não é recomendável esperar
qualquer gesto de subestimação
dessa figura compenetrada
porque o gato não engole nada
o gato é a péssima experiência
de se conservar bons grados
não esperem nada do gato
ele já sabe que o mundo é pequeno
e que já foram cometidos
tantos estragos
e que a vida é uma cilada
e que a cidade é uma espaçonave
e que seu dono é ele só
intacto, veloz e impassível
porque gatos são ingovernáveis
o resto é apenas a história humana


Elder Oliveira
Poções – BA (1968)

Um comentário:

  1. Delicadeza e força em ritmo lirismo sonoridade. Gostei muito do "ubi sunt?" em "Primeira ternura". E, da musicalidade que seus versos carregam, "Felinos" parece feito para se cantar. Desculpe-me a intromissão. Faço parte da equipe editorial do Jornal Poesia Viva, há 15 anos e gostaria de publicar um poema seu. Caso queira conhecer o jornal,envie-me seu e mail. O úiltimo número está online. Obrigada, Léa Madureira Lia.

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