terça-feira, 10 de maio de 2011

João de Moraes Filho




Solar dos arcos
Para Alexandre Gusmão

 Os homens nunca chegavam a algum lugar,
mas iam eternamente em busca de,
pois não queriam nem suportariam
 entender a verdade do lugar nenhum.
José Inácio Vieira de Melo



Espia ...
A onda varre as sombras

dos coqueiros na beira
da Praia de Tatuapara.

Nada comparado
ao beija flor parado,

no centro de uma janela,
olhando, como nós,

as pegadas assanhadas
que passam por ali,

onde vão as estrelas
caídas do céu; ainda

plaina o beija flor,
livrando-se de liberdades

deixadas no rastro de algum outro
em permanente busca de si.



Procissão 

 Seja qual for o certo,
Mesmo para com esses
 Que cremos serem deuses, não sejamos
Inteiros numa fé talvez sem causa.
 Ricardo Reis


Desponta na esquina
a imagem padecida
da Virgem do Rosário.
Vai carregando só,
seus milagres azuis
desejando os meus,

clamando pelo Deus
esquecido no eu
com coração em punho.
Mesmo assim, compassa
esse desejo fosco
espiando os teus

milagres aguardados,
andando pela rua
que vejo cá de perto.
Arrancando sorrisos,
profano e sagrado guardam,
divinamente vivos,

heranças esquecidas
nas ruas adormecidas
pelo tempo Heróico.
Segue na correnteza
o Rosário rezando
para os rios que partem:

Paraguaçu adentro.
Nos Portos ancorados
se resumem histórias
margeadas de Áfricas
em estado de aves
cantando nos jardins.

Nossa Senhora passa,
repassa lá na fé
arrancada de nós;
despelada, sem cor,
esquecida no eu
com coração em punho.



Praça Aclamação
A Carlos Machado


Alguns preferem um
ou dois poemas de sentido oculto
e morte discreta. A Câmara

capta suas lições de incertezas,
enquanto dois poemas
escancaram percepções.

Distintos como os lados cerebrais,
enxergam
o osso do nada sem vexame,

como quem se vê na margem de cá
da página virtualizada.

Outros preferem um
ou dois poemas de sentido discreto
e morte oculta.

O rio, esse ponteiro louco
que avança para morte,
é uma estreita estrada que sobe o morro

de nosso peito pulsando
cada fase da lua. A vida,
um pavio riscado em nossas mãos.


João de Moraes Filho
Cachoeira – BA (1977)

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