segunda-feira, 30 de maio de 2011

Hildeberto Barbosa Filho




Cata-vento e Juazeiro


Na minha vida existe um Cata-vento
solitário nas léguas da fazenda.
Cata-vento que ao sonho dava alento,
quando o sonho se fazia minha tenda.

Na minha vida existe um Juazeiro
à sombra da infância nos currais.
Juazeiro plantado no terreiro,
no terreiro da gleba de meus pais.

Do Cata-vento aprendi a melodia
agreste destas nuvens andarilhas
e a geografia azul d’outra viagem.

Do Juazeiro e sua verde fantasia,
ao sol multiplicada em tantas trilhas,
para sempre guardei a sua imagem.



Umbuzeiro


Não existe fotografia mais bela
que o verde Umbuzeiro na Caatinga,
estrumada pelo vinho da neblina,
a compor a mais vívida aquarela.

Não é somente bela, é muito estranha
sua sombra espalhada sob o Sol
como garras de negro caracol
que nos músculos da Terra se entranha.

Sua folhagem à fornalha resiste,
quando a seca, com seu manto triste,
cobre de luto as luas da estiagem.

Resiste o caule, as raízes, o fruto
do velho Umbuzeiro em seu talhe bruto,
solitário verdume na paisagem.



Vaqueiro


Vem, Vaqueiro, aboiando com a voz
dos bogaris beijados pelo vento,
do espanto dos novilhos ao relento
no dossel da noite sob o avelós.
Vem, Vaqueiro, vem aboiar meu sonho,
tangê-lo pelas vazantes da Vida,
a Vida, sempre uma imagem perseguida
pela trama do verso mais bisonho.
Vem, Vaqueiro, a memória cavalgando
entre os corcéis velozes do passado
de agreste meninice em meio ao gado
que no sonho ´inda ´stou pastoreando.
Vem, Vaqueiro, aboiar a minha sorte
antes que me levem os bois da Morte.



A Morte


A Morte vem, já escuto o seu trote
seco e já vislumbro os seus carneiros
pelos rastros da noite, no nevoeiro.
A Morte vem, esquálida, impudica,
com seu vinho azedo, sua gosma
lânguida e seus lívidos punhais,
seus lúridos penedos. A Morte vem,
com seus torpes tentáculos devorando
os bichos com seu degredo. E vem,
com seus arreios de égua arcaica e torta
galopando os ossos do seu segredo.
A Morte vem, já escuto seus desertos
Passos, mas não tenho medo: a Morte
É apenas a névoa batendo no rochedo.


Hildeberto Barbosa Filho
Aroeiras – PB (1954)

2 comentários:

  1. De um lirismo doce e forte. De uma sonoridade grave e convidativa: Não é somente bela, é muito estranha/sua sombra espalhada sob o Sol e, mais ainda em: Vem, Vaqueiro, vem aboiar meu sonho,
    tangê-lo pelas vazantes da Vida,
    a Vida, sempre uma imagem perseguida
    pela trama do verso mais bisonho. Gostei muito, Hildebrando. Poderia enviar-me um poema seu para publicar no Jornla Poesia Viva? leamadureira@hotmail.com

    ResponderExcluir
  2. Retorno, a tempo de corrigir o nome do poeta: Hildeberto Barbosa Filho. Perdão! Está de pé o convite para o Jornal Poesia Viva, certo? Há 15 anos existe, em publicação trimestral, agora, semestral, mas bem maior. Envie-me seu endereço que lhe enviarei alguns exemplares. Abraços, Léa Madureira Lima

    ResponderExcluir