sábado, 19 de maio de 2012

Alberto Bresciani





Sorte


Tardio ainda assim
eu me invento

Vozes chegam
de outro tempo

e devolvem
meu silêncio

Nele calo o medo
e todo o corte.



Marghe(rita)


Não valem os dias
além dos corações
que neles batem
São caminhos

Essa única vista
me verte o sim
Você fala por ela
e repete as imagens

A porta que abre
verdeja
e floresce
para dentro do corpo

história maior
do que antigas lembranças

Do teu nome,
margaridas nascem sobre a lava.



Hora desmarcada


I

Quando chegou
estava de saída

já não era cedo
para querer

era tarde
para o desejo


II

As legendas
quase claras

as leituras
turvas, trocadas


III

Arremesso
de som


arremedo
de ar


IV

Desde
antes

no topo
da queda

desencanto
e medo.



Miragem


Somos ficção
Simulamos o invisível
e a imagem

no reflexo
do espelho – ali nada há
como nada somos

Onde encontrar
a verdade
ou a real essência

desses fantoches
de nós mesmos
se os mistérios

não estão em lugar
mas no que mais fundo
escondemos?


Alberto Bresciani
Rio de Janeiro – RJ (1961)

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