sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Casimiro de Brito



Os outros


Os outros que vivem comigo
Estão cheios de carências e têm medo
Do dia que vai nascer

Os outros que vivem comigo
Compram e vendem coisas idéias sentimentos
Como quem muda de pele todos os dias

Só eu estou tranquilo e não digo nada
Porque não estou numa festa num campo de batalha
E não preciso de sorrir a ninguém de morder
Ninguém de fazer sinais
Que me prendam aos outros

Os outros que vivem comigo
Correm de um lado para o outro agitam-se
E não encontram o caminho
Mas eu não corro para lado nenhum
Ouço a carne viva das águas o cerne
Que vem do fundo o caminho que nunca
Me abandona

Talvez eu seja ignorante
Talvez a minha mente seja como a mente
De um louco
Talvez eu seja apenas um espelho
Que nada recusa nem aprisiona
Mas os outros que vivem comigo
Estão cheios de carências e vão morrer
Porque não sabem que transportam em si
O vaso e a semente.


Casimiro de Brito
Loulé - Portugal (1938)

Um comentário:

  1. Eu sou um grão de areia, apenas!... que se transforma em cada momento, para poder ser!... ou também, estar com o outro, para encontrar as vias do amor! Muitas vezes perco-me, sem saber aonde vou...! Mas sei, qaundo toco a essência pura, porque essa, não mente! Ensina, que sou diferente!...
    Quando dou: tudo!..., não penso! Existo..., e sei, que quando dou, recebo!
    Essa balança, equilibra-me, e ajuda-me a palpar cada passo, sem importar o futuro, pois o que dou, é-me devolvido!
    Não tenho medo!

    ResponderExcluir