Foto/Divulgação: Ricardo Prado
Registro da fala do silêncio
O que mais tem falado em mim é o silêncio,
mas um silêncio plural – de fogo –
que com sua língua escarlate abrasa as palavras
e as queima antes de serem.
Um silêncio de lá, de longe – das plagas interiores –
que fala o tempo todo sem dar nome ao dito.
Em sonho é imagem: e vejo, inebriado,
a sua cara – semblante formidável:
tão formoso quanto pode ser um deus.
O silêncio, este que fala e de que tanto falo,
é um hieroglífico poema,
e estes versos: tradução e codificação.
Aurora
A liberdade do crepúsculo tremula.
Escuto o alarido dos pássaros do Sertão.
Debruço-me no ninho do Cosmo.
Minhas mãos trabalham no vazio.
Minhas mãos trabalham na imensidão.
Longa batalha em busca da beleza.
Da boca dos pássaros, os violões do Sol.
Rezo benditos e grito os nomes da Terra.
Contemplo a mansidão do silêncio que voa.
As minhas sandálias são feitas de aurora.
De meus dedos esplendem labirintos.
Meu caminho é o strip-tease da solidão.
Fronteiras
Perdido sem lua nem uivo,
para mim só tem um caminho:
riscar esporas no vazio.
José Inácio Vieira de Melo
Olho d’Água do Pai Mané – AL (1968)
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