domingo, 10 de outubro de 2010

Salgado Maranhão



Deslimites 10
(Taxi blues)



eu sou o que mataram
e não morreu,
o que dança sobre os cactos
e a pedra bruta
– eu sou a luta.
o que há sido entregue aos urubus
e de blues
em
blues
endominga as quartas-feiras.
– eu sou a luz
sob a sujeira.

(noite que adentra a noite e encerra
os séculos,
farrapos das minhas etnias,
artérias inundadas de arquétipos)

eu sou o ferro. eu sou a forra.

e fogo milenar dessa caldeira
elevo meu imenso pau de ébano
obelisco as estrelas.

eh tempo em deslimite e desenlace!
eh tempo de látex e onipotência!

leito de terra negra
sob a água branca,
eu sou a lança,
a arca do destino sobre os búzios.

e de blues a urublues
ouço a moenda
dos novos senhores de escravos
com suas fezes de ouro
com seus corações de escarro.

eh tempo em deslimite e desenlace!
eh tempo de látex e onipotência!

Eu sou a luz em seu rito e sombras
– esse intocável brilho.


Salgado Maranhão
Caxias – MA (1953)

Um comentário:

  1. Navegando por ai,cheguei por aqui.
    E,de cara, topo com Salgado Maranhão, poeta o qual tenho profunda admiração e carinho.

    Belo blog, vou ficar por aqui, desvendando.
    Não achei a opção seguir, uma pena.

    Deixo um carinho meu,eu,que nem poeta sou.

    bjo


    INTRADUZÍVEL
    milene sarquissiano

    Toda linha é pouca
    se a razão é louca.
    Não cabe no verso
    o tamanho do amor.
    Perde-se de vista;
    o olho não alcança.
    Não cabe no verso
    qualquer explicação.
    O amor é uma língua
    que só a nossa boca
    sabe a tradução.

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